sexta-feira, 13 de maio de 2011

A síndrome brasileira de criar ídolos instantâneos no esporte

Belucci x Guga / Massa x Senna / Neymar x Pelé
Nos últimos anos, o esporte brasileiro cresceu de forma vertiginosa, deixando de ser apenas o "país do futebol". Hoje, também somos reconhecidos pelo melhor vôlei do planeta, com as seleções masculina e feminina, temos alguns dos melhores lutadores de MMA no UFC, como Anderson Silva e José Aldo e, também, vários atletas olímpicos de alto nível, como César Cielo e Maurren Maggi.

Todos esses nomes possuem algo em comum: o fato de terem chegado a esse patamar, respaldados pelo desempenho de cada um deles em seu esporte. São indiscutívelmente merecedores da alcunha de ídolos em suas categorias.
Cielo nas Olímpiadas da China
Não há como questionar a supremacia da seleção masculina de vôlei, nem a força de Anderson Silva no octógono, muito menos a explosão de César Cielo nas piscinas.

Porém, um fenômeno impulsionado pela mídia, ganhou força no Brasil nos últimos anos: a síndrome de se criar ídolos de forma instântanea, e, na maioria das vezes, acompanhada de comparações irresponsáveis com atletas que marcaram época.

Para elucidar essa minha análise, citarei três exemplos conhecidos de todos: Felipe Massa x Ayrton Senna, Neymar x Pelé e o mais recente de todos, Thomaz Belucci x Guga.

Não venho aqui questionar a qualidade desses "novos fulanos". Os três merecem alguns louros da fama, o destaque alcançado e ponto. Porém, a mídia em geral, criou uma necessidade de torná-los ídolos da nação, sem a menor responsabilidade de analisar a frieza dos números e méritos alcançados. E o maior problema é o método utilizado para elevá-los a essa condição.

Ao criarem comparações entre atletas que foram referências em seus esportes e em uma determinada época, uma grande expectativa é gerada no grande público. E essa imagem, absorvida por um público leigo (em caso de esportes especializados, como o caso de Belucci, no tênis) que desconhece a realidade do esporte, gera uma pressão de fazer daquele atleta específico, um ícone para a nação.

Abro aqui um breve parenteses sobre o comportamento do torcedor brasileiro, que, devido a vários fatores sociais, culturais e políticos, sempre idolatrou ícones do esporte. Um Pelé ou um Ayrton Senna, são heróis de uma geração, símbolos da pátria, dignos das mais altas condecorações. Seus feitos são indiscutíveis.

Sendo assim, o enaltecimento e a comparação aos ídolos, geram uma cobrança desproporcional e desmedida em cima desses novos atletas. Assim como todos nós, eles são passíveis de erros, e quando eles ocorrem, a pressão exercida sobre a mesma mídia que os colocaram lá em cima, é tão grande quanto ao status de idolatria.

Massa, em Interlagos na temporada 2008
Nos três exemplos mencionados anteriormente, ficam evidentes esse tratamento. Em 2008, Massa disputou ponto a ponto o título da temporada da Fórmula 1 com Lewis Hamilton e perdeu o título na última curva da etapa de Interlagos.

Durante aquele ano, devido ao desempenho do brasileiro, muitos o colocaram como o novo ídolo brasileiro no automobolismo, pós-Ayrton Senna, gerando as inevitáveis comparações. Ao final da temporada, a imprensa e a torcida esperava nada além do título. Com a não confirmação da conquista, as críticas da opinião pública, caíram, diga-se de passagem, injustamente, sobre os ombros de Felipe Massa.

No caso de Neymar, a disparidade das comparações ainda é mais gritante. O fato do jovem atacante jogar no Santos e ter uma talento raro no futebol, as comparações com Pelé surgiram como um meteoro. As cobranças logo vieram, sempre acompanhadas de análises recheadas de comparações com o rei do futebol.

Belucci no Masters de Madrid
Por fim, o caso mais evidente e talvez, o mais precipitado, de comparação entre atletas. Thomaz Belucci atualmente melhor tenista brasileiro, já vem sendo taxado de "novo Guga" por algumas pessoas da mídia. Contribuíram para essa definição, algumas atuações do brasileiro no circuito da ATP e a parceria com o ex-técnico de Gustavo Kuerten, Larri Passos.

Mas, nunca uma comparação fora feita de forma tão precipitada. E Belucci sentiu o peso de ser o "novo Guga". Após execelente campanha no Masters 1000 de Madrid, a melhor campanha de um brasileiro no circuito desde os tempos de Guga, e alcançar a 22ª posição no ranking da ATP, Belucci caiu logo na primeira rodada do Masters 1000 de Roma. A relação de "morde e assopra" ganhou vida novamente. Os mesmos que o enalteceram após a brilhante campanha na capital espanhola, o criticaram após a derrota na Itália. 

A conclusão que chego é que hoje, não há critérios para um atleta ser considerado ídolo pela mídia. Qualquer um pode ser, basta estar em evidência naquele momento.

Quanto as comparações, a irresponsabilidade ainda é maior. A mídia se esquece de analisar o contexto histórico de cada atleta. Regras são diferentes, os rivais são diferentes, tudo é diferente. Não há como comparar. O futebol do tempo de Pelé não é futebol do tempo de Neymar. A Fórmula de Senna, não é a Fórmula 1 de Massa e o tênis da época do Guga, já não é mais o mesmo dos tempos de hoje, com Belucci.

A mídia deve ser mais criteriosa para não lançá-los como ídolos da nação e depois, queimá-los junto ao grande público. Os atletas não merecem esta pressão. E assim, poderão trabalhar mais tranquilamente para alcançar resultados mais expressivos e que assim, sim, os crendeciem para a condição de ídolos de uma nação carente de heróis de verdade.

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