sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A seleção brasileira e o jogo dos 7 erros - 5º erro: Onde estão os jogadores decisivos?

O que venho apresentar agora como um erro, oficialmente não chega a ser um, uma vez que não é algo inerente a má administração dos comandantes do futebol brasileiro. Porém, considero que vale o destaque, uma vez que eu entendo como um dos maiores motivos para a seleção brasileira estar vivendo esse atual momento.

A seleção de 1958
Se fizermos um levantamento histórico das gerações vencedoras, sempre vamos notar a presença de nomes que foram referências no cenário futebolístico de suas respectivas épocas. No primeiro título mundial, em 1958, a seleção era composta por nomes como Djalma Santos, Didi, Zagallo, Garrincha, Nilton Santos, Mazzola, Pepe e um tal de Pelé. 

Quatro anos mais tarde, veio a segunda Copa do Mundo, vencida por um time praticamente idêntico ao de 1958, com a inclusão de mais um nome relevante: o companheiro de Pelé no Santos imbatível, Coutinho. 

Brasil em 1970
O elenco que conquistou a Copa de 1970 no México dispensa apresentações: Piazza, Carlos Alberto, Jairzinho, Gérson, Tostão, Rivelino e novamente Pelé formavam o esquadrão canarinho que ergueu a taça Jules Rimet. Depois disso, veio um jejum de vinte e quatro anos sem alcançar o topo do futebol mundial, mesmo com as históricas seleções de Tele Santana, em 1982 e 1986. 

Assim chegamos até a Copa do Mundo de 1994, realizada nos Estados Unidos e vencida por uma das mais contestadas gerações do futebol brasileiro de todos os tempos. Porém, havia nomes capazes de decidir uma partida como Taffarel, Bebeto e Romário, acompanhados do pragmatismo de Parreira. O resultado foi a conquista diante a Itália, em uma decisão de pênaltis dramática.

Os campeões de 2002
Por fim, o pentacampeonato vencido na Copa de 2002, sediada conjuntamente por Japão e Coréia do Sul. Essa foi a Copa que consagrou um dos maiores jogadores de todos os tempos: Ronaldo. Porém, foi evidente que ele não foi a única referência daquele time. Marcos, Roberto Carlos, Cafu, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho deram brilho aos jogos e também merecem destaque.
Assim aterrisamos em 2011 e vejamos a seleção de Mano. Quem são os nossos destaques? Quem são os jogadores experientes? Quem são os jogadores capazes de decidir a partida em um único lance? Por mais que a imprensa velada insiste em falar que Neymar é esse jogador, eu discordo plenamente. Mas antes de discorrer sobre o assunto "Neymar", uma análise da atual geração deve ser feita.

O contestado Júlio César
Começando pelos donos das camisas 01, talvez aí esteja o ouro da geração brasileira. Parafraseando Lula, "nunca antes na história desse país" vimos tantos bons goleiros defendendo os nossos clubes. Além dos experientes Marcos e Rogério Ceni, merecem menção os nomes de Fábio do Cruzeiro, Jeferson no Botafogo, Victor no Grêmio e Fernando Prass do Vasco. Além disso, as gerações de base continuam a crescer nas metas, com nomes como Gabriel do Cruzeiro, Muriel do Inter, Rafael do Santos e Renan do Corinthians. Mesmo com esse menu recheado, o titular da seleção é o contestado Júlio César, que já ostentou o posto de melhor goleiro do mundo, mas hoje em dia, acumula falhas consecutivas debaixo das traves brasileiras.

As boas notícias param por aí. Na zaga, apenas Thiago Silva do Milan vem merecendo a amarelinha. Até que há outros nomes, mas ainda não são jogadores prontos para defender o Brasil. São apenas promessas, como Dedé do Vasco e David Luiz do Chelsea. E o capitão Lúcio, convenhamos, passou da hora de se aposentar.

André Santos, após perda de pênalti
Nas laterais, extremos opostos. Enquanto do lado direito temos talvez os dois melhores laterais do mundo, Maicon e Daniel Alves (que diga-se de passagem, não vêem rendendo na seleção o mesmo que rendem em seus clubes), o lado esquerdo está completamente órfão de Roberto Carlos. Nomes como Gilberto, Michel Bastos, Kléber, Adriano, Maxwell, André Santos e Marcelo já tentaram herdar a camisa 6 de Roberto Carlos, mas não conseguiram convencer e imagino que nem irão conseguir tal feito. E quando procuramos outras opções, simplesmente não há. (Bruno Cortês do Botafogo é uma boa revelação, mas também é precoce para assumir esse posto).

Il Profeta, Hernanes
Chegamos ao meio-campo, terra dos gênios brasileiros. Por parte dos volantes, temos alguns bons nomes, como os frequentadores assíduos da seleção, Lucas Leiva e Ramires. Mas Mano ainda insiste em suas convocações corintianas, como Jucilei, Ralf, Elias e agora, até Paulinho. Casemiro do São Paulo, Arouca do Santos e Williams do Flamengo merecem oportunidades. Hernanes da Lázio, nem se fale, mas o "Il profeta" já caiu no desgosto rancoroso e indecoroso de Mano Menezes e dificilmente voltará a vestir a camisa amarela.

Já na criação, encontramos um dos maiores déficits de talentos do futebol brasileiro. A mídia insiste em alçar o nome de PH Ganso como o 10 que precisávamos. Mas a sua inconstância, a sua personalidade e a sua perna de vidro ainda não o deixaram ser. Lucas é o "plano B", mas o vejo mais como um antigo ponta-direita do que um armador e o ressuscitado Ronaldinho Gaúcho, há temos abdicou da criação e se lançou de vez para o ataque. Mano insiste em nomes como Jádson e Fernandinho, mas esses nunca foram jogadores de nível de seleção. Que tal naturalizar Montillo?

Neymar. Que "rei" sou eu?
No ataque, chegamos ao ápice. Há dois anos, surgiu um "novo Pelé" e atende pelo nome de Neymar Jr. Mas eu pergunto: Novo Pelé porque? Só porque está no Santos? Robinho também foi um "novo Pelé" em 2002 e por acaso, ele realmente foi? Já escrevi sobre essas comparações descabidas e precipitadas que a imprensa brasileira insiste em fazer e Neymar foi outra vítima (ou vilão?) dessa história. Ele não é e nunca vai ser um novo Pelé. Nem chegará perto de nomes como Ronaldo, Zidane, Maradona, Zico e etc. E da sua atual geração, está anos-luz de Messi e cito até um jogador revelação e de mesma idade, o alemão Mario Götze. Enfim, Neymar definitivamente não pode ser taxado como a ESPERANÇA do futebol brasileiro na Copa do Mundo de 2014.

A revelação alemã, Mario Götze
Não chego ao ponto de colocá-lo como "futuro reserva do Atlético-PR" como um amigo meu já proferiu, mas taxá-lo de salvador da pátria é muito precoce. E o que dizer então dos seus companheiros convocados para o ataque? Pato tem talento, mas não faz uso dele na seleção. Robinho sempre será uma eterna promessa que ao meu ver, já não merece mais oportunidades. Fred passou do ponto e Leandro Damião vive uma fase excelente, mas não chega a ser um primor técnico. A verdade é que a geração pós-Ronaldo está muito aquém de seus antecessores. Nem outras opções, como Hulk e Borges podem ser consideradas plausíveis.

Doa a quem doer, mas as outras equipes vivem de uma safra muito mais superior do que a do futebol brasileiro, que outrora dominava a 'lavoura futebolística'. A Argentina tem Messi, Aguero, Lavezzi, Pastori, Iturbe e Tevez. A Alemanha está bem servida em sua renovação com Müller, Mario Götze, Toni Kroos, Özil e Kedira, além dos experientes Lahm, Schweinsteiger e o incansável Klöse. E principalmente, a atual campeã do mundo, Espanha, com Casillas, Xavi, Iniesta, Pedro, Fabregas e Villa.

Há muito tempo pela frente e um trabalho, acima de tudo psicológico, deve ser feito com a nossa geração de jogadores, com o intuito de prepará-los para o que virá. Com a Copa acontecendo no Brasil, a cobrança será infinitamente superior maior do que a de costume e esses garotos terão que estar preparados para serem decisivos. E como as coisas estão acontecendo, prevejo uma das maiores decepções da história do futebol brasileiro, digno de colocar o Maracanazzo como coadjuvante do que está por vir.